Com respeito, Caldas.

Baiano de Belmonte, José Zanine Caldas é conhecido como o "mestre da madeira" por conta de seus trabalhos primorosos com essa matéria-prima.
Fundou a Móveis Artísticos Z, empresa planejada a partir da produção industrial em série e suas peças marcaram páginas importantes da história do design brasileiro. Os produtos idealizados por ele, obtiveram, através do uso do compensado de araucária recortado, boa qualidade e preços acessíveis, ampliando a faixa de consumidores da mobília moderna, para além do que era usual no período.

 

“Espiando os outros fazendo coisas, fui me envolvendo com as árvores.

Aprendi que a madeira tem duas vidas: a primeira como árvore;

a segunda como mesa e cadeira, assoalho, armário, berço, caixão.”


Os primeiros trabalhos de Zanine Caldas, foram modelos reduzidos e maquetes que contribuíram para a criação de novas formas de arquitetura e que saíam das pranchetas para serem estudadas a três dimensões.
No auge do modernismo brasileiro, enquanto esteve à frente da fábrica Móveis Artísticos Z, pode desenvolver móveis a baixo custo para a classe média, utilizando-se da industrialização em expansão no país.
Aqui, já havia o conceito máximo do reaproveitamento da matéria-prima utilizada. Isso numa época em que quase não se falava de ecologia.

 

 

Multidisciplinar, Zanine Caldas foi Designer, Arquiteto, Professor e Paisagista.
Na fazenda de Osvaldo Bratke, cultivou um viveiro de plantas tropicais e fazia a queima de cerâmicas que integravam a ambientação para inúmeros projetos residenciais. Integrou o corpo docente da Universidade de Brasília (UnB) como professor de maquetes, causando polêmica pelo fato de não ter formação acadêmica. Foi processado criminalmente pelo Conselho Regional de Arquitetura do Rio de Janeiro (CREA) por exercer ilegalmente a profissão. Essa decisão levou Oscar Niemeyer a afirmar: 


“Zanine, você não é maquetista. Você é arquiteto!”

 

Caldas foi um dedicado mordomo da floresta e proponente da proteção ambiental. Ele escreveu extensivamente sobre sua conexão com a floresta e tentou, sempre que possível, usar árvores já derrubadas ou plantar uma árvore para cada uma que ele usou.
As famosas casas na Joatinga, residências belíssimas, que pousam sobre um terreno extremamente inclinado, possuíam sistema de captação de água da chuva e posterior filtragem da mesma, para uso na residência.

 


Pensar nas melhores formas de utilizar os recursos naturais, respeitando a natureza, foi uma das características de Zanine Caldas.
Morou em Nova Viçosa, na Bahia, mantendo seu escritório no Rio, e estabeleceu uma oficina para antigos canoeiros em sua comunidade “proto-ecológica”, reassumindo sua ligação com as técnicas caboclas e reinterpretação das tradições artesanais regionais.

 

 

O contato com o agreste, com os canoeiros e com a paisagem ameaçada daquela cidade baiana, fez dele um dos precursores do ambientalismo na década de 70, trabalhando em sua série de “Móveis Denúncia”. Os móveis foram construídos com toras brutas de madeira, desperdiçadas por grandes industrias, que ele chamou de “sucata de madeira” cujas linhas retorcidas inspiram seu desenho.


“Ao ver aquelas madeiras imensas serem queimadas e jogadas fora,

eu pego a madeira bruta e a transformo em móvel, nas dimensões naturais” Zanine Caldas


Zanine foi um dos fundadores do Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM), núcleo de pesquisa que visava preservar as florestas brasileiras através da conscientização sobre o uso da madeira em construções civis. Tornou-se colaborador do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), elaborando projetos arquitetônicos para a Organização das Nações Unidas (ONU)

 

 

A vida e a obra de José Zanine Caldas marcaram uma grande mudança na história do Design Brasileiro, trazendo o ecológico e sustentável como um elemento fundamental á suas peças.
Sua obra vem sendo homenageada e relembrada por grandes instituições de arte e design. A mais recente foi em seu centenário, realizada no MAM do Rio de Janeiro em 2019.
Em 2016, suas peças de 1948 da “Móveis Artísticos Z” ganharam uma reedição e são comercializadas nas principais lojas especializadas em design do Brasil, além de Estados Unidos e Europa.

E agora também na Augusta ;)